Jerónimo Martins ‘engorda’ no salmão da Noruega e fica a mandar sozinha na Hussel

Braço agroalimentar da Jerónimo Martins aumenta para 30% participação na norueguesa Andfjord Salmon e duplica aquacultura no Algarve. Falência da sócia alemã amarga negócio da cadeia de chocolates.

Ao fim de uma década de investimento no agroalimentar, dividido em quatro áreas de negócio – indústria de laticínios, a única já em fase de consolidação; agropecuária; aquacultura; frutas e vegetais – e com unidades e participações em Portugal, Marrocos e Noruega, o grupo Jerónimo Martins já emprega mais de 500 pessoas nestas atividades extra retalho em que assegura manter “planos de forte crescimento”.

É na remota ilha de Andøya, pertencente ao arquipélago ártico de Vesterålen, que a dona do Pingo Doce, da polaca Biedronka e da colombiana Ara tem uma participação financeira na Andfjord Salmon, que “tem vindo a reforçar nas várias fases de aumento de capital”. Em velocidade de cruzeiro e com as propriedades costeiras já garantidas, o volume de produção esperado supera as 90 mil toneladas por ano.

Sem quantificar o investimento, fonte oficial da Jerónimo Martins adiantou ao ECO que “após novo reforço, realizado já no início de 2025, [dos anteriores 25%] passou a ter 30%, sendo o maior acionista”. A empresa norueguesa de criação de salmão está “totalmente orientada para o mercado e estima iniciar a sua produção no final de 2025”, detalhou o grupo, que no primeiro trimestre aumentou os lucros em 31,4% para 127 milhões de euros.

Ainda na aquacultura, em que a internacionalização arrancou em 2021 com a aquisição da maioria de uma empresa em Marrocos para a produção offshore no Mediterrâneo, no ano passado, o ‘braço’ do grupo para o agroalimentar, liderado pelo ex-ministro da Agricultura António Serrano, vendeu um total de 4.170 toneladas de dourada e robalo, produzidas também em Sines, na Madeira e em Vila Real de Santo António.

Foi nesta localidade raiana que, em 2024, a empresa Seaculture finalizou o projeto de estrutura logística, incluindo em terra (edifício e cais de apoio), além de uma unidade de acondicionamento de suporte à operação. Questionado sobre este investimento na operação algarvia, o grupo respondeu apenas que “[decorre] nesta fase a operação de duplicação desta unidade” que começou com 1.500 toneladas.

António Serrano, CEO da Jerónimo Martins Agroalimentar.

Dos peixes para a agropecuária, através da originária Best Farmer e da sociedade Ovinos da Tapada, em que investiu em 2021, o grupo que vai continuar a ser liderado por Pedro Soares dos Santos dedica-se à produção de carne – vendeu 11.600 bovinos angus e 70 mil borregos em 2024 -, de leite (11 milhões de litros no mesmo período) e ainda de cereais e pastagens, que asseguram mais de 70% das necessidades de alimentação dos animais.

Na atividade agropecuária, como relatou no relatório e contas relativo ao último exercício anual, as principais novidades no negócio da produção de carne angus foram o início da operação numa nova unidade localizada em Pernes, no concelho de Santarém; e a expansão da capacidade de engorda e o arranque da nova vacaria com ordenha robotizada no Alentejo (Monte de Trigo).

Finalmente, no setor das frutas e legumes, como já tinha reportado ao mercado a meio do ano passado, passou a deter 100% da sociedade Outro Chão, com 115 hectares para produção de uvas sem grainha que comercializa com a marca “hey,vita!”). Comprou os restantes 20% ao empresário António Silvestre Ferreira, fundador do grupo Vale da Rosa – cujo plano de recuperação impôs perdas de oito milhões de euros à banca.

Por outro lado, a Jerónimo Martins Agroalimentar aumentou de 50% para 80% a participação na SupremeFruits, produtora de frutos de caroço, como pêssegos, nectarinas e ameixas, e de mandarina tango, que tem primeira colheita prevista para 2027. Com cerca de 200 hectares, esta empresa resultou de uma joint-venture criada em 2023 com o Grupo Nuvi, do empresário Luís Vicente, na qual realizou um investimento inicial de sete milhões de euros.

Falência na Alemanha ‘amarga’ negócio da Hussel

Menos animadoras são as perspetivas de negócio no retalho especializado, após um “ano duro” para as cadeias Jeronymo e Hussel, que “restruturaram as suas operações, com uma mudança profunda da sua gestão e uma redefinição dos seus modelos de negócio”, desafiadas pelo “aumento continuado dos principais custos operacionais (recursos humanos, rendas e matérias-primas, principalmente café e cacau) e redução das margens para responder à diminuição do poder de compra dos consumidores”.

Se “em resultado deste contexto difícil” a rede de cafetarias surgida em 2002 fechou três lojas (tem agora 22), mas viu as vendas crescerem 5,9% no ano passado em termos homólogos, por outro lado, a faturação da cadeia especializada em artigos de chocolates e confeitaria encolheu 1,4% no mesmo período, mantendo a comercialização em 20 bomboneries distribuídas maioritariamente pelos principais centros comerciais em Portugal.

Detemos 100% da Hussel Ibéria e não vemos necessidade de ter outro parceiro de capital.

Fonte oficial do grupo Jerónimo Martins

O grupo descreve no documento enviado à CMVM que a operação da Hussel no país “enfrentou um ano muito exigente, marcado por negociações comerciais mais difíceis com os seus principais fornecedores”, em resultado da falência do acionista minoritário (49%) e parceiro da Jerónimo Martins na Alemanha. Com a amortização das ações detidas pela Hussel GmbH e a correspondente redução do capital social, decididas em novembro, o grupo português passou a deter 100% da Hussel Ibéria.

Questionada sobre se está à procura de um novo sócio para esse negócio, após a insolvência da histórica empresa alemã, fundada em 1949 em Hagen, fonte oficial disse ao ECO que “não [vê] necessidade de ter outro parceiro de capital”. Já quanto aos planos para a abertura ou encerramento de espaços da Hussel no país, frisou que “o parque de lojas não é estanque” e que essas decisões “decorrem sobretudo de oportunidades de localização”, acrescentando que “neste momento não [tem] previstas alterações”.

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